Em 1648, quando a Guerra dos Trinta Anos estava perto de seus dias finais, o Exército sueco invadiu Praga.
Dentre os itens que saquearam, deram de cara com um livro grande, pesado e desgastado.
Nada nele parecia incomum até encontrarem uma página inteira ocupada por uma figura inesperada: o Diabo.
A obra logo foi apelidada de Bíblia do Diabo. Naquele dia, os suecos nem imaginavam que tinham em suas mãos o maior manuscrito medieval que existe no mundo até hoje.
Ninguém sabe o nome verdadeiro do manuscrito. Mas ele precisava de um nome mais respeitável, então foi chamado, sem muita imaginação, de Codex Gigas (Livro Gigante). Ele tem 310 páginas, 89 centímetros de altura, 49 centímetros de largura e pesa 75 quilos.
O conteúdo não é diabólico. A Bíblia é uma coletânea de textos de diferentes temas e períodos:Antigo e Novo Testamento completos; uma enciclopédia de Isidoro de Sevilla; e textos sobre técnicas medicinais, entre outros.
Punição
O livro é assinado pelo monge Herman Inclusos. Quem foi ou por que desenhou o Diabo ninguém sabe.
Temos apenas lendas. A mais famosa certamente merece ser reproduzida.
Segundo ela, o livro foi escrito no século 13, por um monge que vivia no mosteiro Beneditino de Podlažice, na antiga Boêmia, hoje República Tcheca. O religioso, que estava prestes a ser punido por quebrar os seus votos, encontrou uma luz no fim do túnel: concordou em transcrever todo o conhecimento da humanidade em uma única noite.
O monge se viu sem saída. Desesperado, convocou o Diabo e ofereceu a sua alma em troca de ajuda para concluir o livro a tempo. Uma vez que cumpriu o combinado, Lúcifer deixou um autorretrato na obra.
Pesquisadores acreditam que a lenda do monge punido pode ter nascido a partir de uma interpretação errônea da assinatura do nome Herman Inclusus (Herman, o Recluso) encontrada na obra. Antigamente a palavra inclusus era interpretada como punição horrível, mas o verdadeiro significado está mais para recluso ou solitário.
Além disso, um estudo feito pela National Geographic em 2015 e liderado pelo paleógrafo Michael Gullick, da Biblioteca Nacional da Suécia, revelou que a caligrafia utilizada para redigir os textos e a assinatura comprova que o grande livro foi realmente escrito por uma única pessoa.
Testes feitos para recriar a caligrafia sugerem que seriam necessários cinco anos de trabalho frenético para criá-la. O monge passou boa parte de sua vida se dedicando apenas à Bíblia do Diabo. O Codex Gigas foi devolvido a Praga em 2007 e ficou lá por um ano. Em 2009 foi apresentado durante uma exposição da Biblioteca Nacional da Suécia, mas atualmente não está mais exposto ao público. Você pode visualizá-lo aqui.